OMS alerta para xaropes para a tosse com contaminantes “tóxicos” relacionados com a morte de 66 crianças

Casos de morte infantil registados na Gâmbia. Autoridades admitem que é “possível” que os fármacos em causa sejam vendidos em outras partes do mundo.

Pedro Gonçalves
Outubro 6, 2022
10:59

A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu esta quarta-feira um alerta para quatro xaropes para a tosse, fabricados pela Maiden Pharmaceuticals, na Índia, avisando que os fármacos poderão estar ligados à morte de 66 crianças na Gâmbia.

Segundo a OMS os xaropes ‘Promethazine Oral Solution’, ‘Kofexmalin Baby Cough Syrup’, ‘Makoff Baby Cough Syrup’ e ‘Magrip N Cold Syrup’ não têm garantias da farmacêutica que os produz de que são “de qualidade e seguros”, adiantando que análises laboratoriais identificaram componentes potencialmente tóxicos nos produtos em causa.

“Análises em laboratório a amostras dos quatro produtos confirmam que contêm quantidades inaceitáveis de dietilenoglicol e etilenoglicol como contaminantes”, justifica a OMS. A organização liderada por Thedros Adhanom diz que os produtos em causa foram encontrados na gâmbia, de onde partiu denuncia inicial sobre os xaropes, mas admite como “possível” a “exposição global” aos produtos, o que significa que está em aberto a possibilidade de serem vendidos em outros pontos do mundo.

Segundo o responsável da OMS relata, os xaropes foram ligados a casos de “lesões graves nos rins e à morte de 66 crianças e estão a ser levadas a cabo “investigações na empresa farmacêutica e nas autoridades reguladoras dos medicamentos na Índia”.

 

Contaminantes “potencialmente tóxicos” motivam conselhos da OMS

Os contaminantes dietilenoglicol e etilenoglicol, potencialmente com efeitos tóxicos, podem causar “dores abdominais, vómitos, diarreia, problemas no sistema urinário, dores de cabeça, estado mental alterado e lesões graves nos rins, que podem levar à morte”, explica a OMS.

“Os produtos referidos neste alerta são inseguros e o seu uso, especialmente em crianças, pode resultar em lesões graves ou na morte”, reforça o alerta da organização.

A OMS diz que é muito importante “detetar e remover” os produtos em causa de circulação, pedindo “vigilância” nas cadeias de distribuição dos países e regiões onde os xaropes poderão ser vendidos. Apelando a que a população em geral procure sempre esclarecimentos de um profissional de saúde em caso de dúvida, a OMS pede que quem tenha os produtos identificados no alerta não os use e peça imediatamente ajuda de um profissional de saúde e reporte o caso às autoridades de saúde.

 

Investigação na Gâmbia desde julho

A investigação à morte de dezenas de crianças na gâmbia começou em julho, após uma série de casos de lesões renais graves. As autoridades locais admitem que também se pode tratar de um surto da bactéria E. coli, surgido após fortes cheias no país que causaram problemas nos esgotos.

Muitas das crianças afetadas tinham acusado positivo para a presença de E. coli no sistema e tinham tomado xarope de paracetamol. A 23 de setembro as autoridades da Gâmbia ordenaram a retirada de todos os produtos com xarope de paracetamol e xarope de prometazina das prateleiras das farmácias.

Ainda esta quarta-feira, antes do alerta da OMS, Abubacarr Jagne, nefrologista responsável pela investigação aos casos detetados, relatava que “os resultados preliminares indicam que a causa mais provável estará relacionada com xaropes de paracetamol e prometazina”.

Tanto a farmacêutica Maiden, o Controlo Geral de Medicamentos indiano ou o ministro da Saúde da Índia recusaram responder às questões da Reuters sobre o caso.

À OMS, a Maiden garantiu que só tinha fornecido os xaropes em questão à Gâmbia.

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